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menstruacoes

26/08/2012

"A manifestação da Deusa... envolve a criação de um novo espaço, no qual as mulheres são livres para serem o que são... Seu centro é o limite das instituições patriarcais... seu centro é a vida das mulheres que começam a se libertar rumo à totalidade. O ingresso em um novo espaço... também envolve entrar em um novo tempo... o centro do novo tempo está no limite do tempo patriarcal... é a nossa vida. É qualquer momento que estejamos vivendo fora de nossa sensação de realidade, recusando-nos a sermos possuídas, dominadas e alienadas pelo sistema patriarcal de tempo linear, delimitado e quantitativo." Mary Daly

A mulher, desde Platão é associada à natureza. Ora como a mãe terra protetora e benévola, ora como tempestade histérica, destruidora. Essa interpretação implica a separação da mulher, como ser incontrolado e impulsivo, da cultura e política, que historicamente são dominados e executados por homens. O mito da caverna de Platão ilustra essa separação, quando Platão fala, que o homem teria que se livrar do útero da natureza para alcançar a razão e a verdade superior.

Freud defende o ponto de vista, que a cultura e a civilização dependem do homem, pois só ele seria capaz de reprimir a sua natureza sexual.

Essa construção do feminino, na tradição da epistemologia iluminista, resultava na dominação da mulher. O corpo da mulher foi historicamente dominado e colonizado, como a natureza foi explorada e desvalorizada. A dicotomia natureza-cultura é diretamente ligada à do gênero.O corpo feminino e as suas implicações são uma construção social, que coloca a mulher como objeto, e anula a possibilidade de igualdade entre os gêneros. Uma mulher, que não se submete a viver o desejo do outro masculino, que quer viver a individualidade e especificidade pessoal dela é ameaçada pela sociedade de perder a sua feminilidade e conseqüentemente a sua legitimidade de existir. Pois, como o sujeito feminino não existe a mulher que não reproduz o seu papel de objeto passivo não é definida. Logo, não existe.

Feministas essencialistas, tais como Jardine e Young exigem a “gynesis”, a criação do discurso feminino para desconstruir o discurso falocêntrico e construir um sujeito feminino. Mary Daly destaca que a mulher não poderá se expressar com a linguagem masculina, mas tem que criar uma epistemologia feminina. Ela vê a única possibilidade da mulher se expressar e se experimentar como tal no uso dos “New Words”. Essas “New Words” ofereceriam a mulher a possibilidade de se colocar no mundo, algo que a linguagem masculina não permite.

A linguagem na arte são símbolos. Para livrar a imagem da mulher, ou seja, o corpo dela da leitura feito dela nessa sociedade, precisava-se criar uma nova simbolização e a desconstrução dos existentes. Ou seja, a semiótica será mais que útil na emancipação da mulher. Como foi colocada em cima, a mulher é objeto. Logo, ela se define e é definida por grande parte através do visual, do seu corpo, que é carregado de símbolos e significados.

Um exemplo desse conflito vivido pela mulher é a menstruação e os mitos ao redor dela. Em várias culturas a mulher menstruada é vista como suja, impura e perigosa. 1978 mulheres ainda perderam os seus empregos por causa da menstruação. Um mito ao respeito, disse que a mulher menstruada transpira toxinas que torna vinho em vinagre, estraga cerveja e fotografias. Como a mulher não é fértil durante a menstruação o homem se sente ameaçado na sua masculinidade. Pois, o seu poder masculino de criar é anulado pela mulher menstruada. A resposta a isso foi a desvalorização da mulher menstruada. Infelizmente, a mulher como parte da sociedade, acabou de incorporar esse rejeição e desvalorização do corpo feminino e as suas implicações. Esse conflito seria anulado na hora que a mulher valorizasse o próprio corpo e através disso começasse a se criar como sujeito. Como foi discutido, o corpo feminino é construído por uma sociedade falocêntrica, que desvaloriza tudo que não seja o homem branco. Se a mulher, porém, começasse a criar consciência do próprio individuo e da particularidade dela, sem aplicar os símbolos falocêntricos nela mesma, mas criando uma nova leitura de si mesma, ela não poderia mais ser objeto. Pois, consciência e ação implicam um sujeito.

Na arte a imagem da mulher como objeto, infelizmente ainda é reproduzido. A mulher como símbolo do estético, da vaidade, da graça, da harmonia, ou seja, como símbolo da não-ação. Eu como artista plástica proponho uma releitura e reformulação semióticas dessa representação. Como eu destaquei, vejo na superação da rejeição do próprio corpo feminino uma possibilidade de demolir a ausência do sujeito feminino.

E ao meu ver, a arte pode fazer uma grande contribuição a isso, em mostrar um outro corpo feminino, mostrar um sujeito em vez do objeto de desejo. Mostrar o corpo vivo, ativo e independente.

No meu trabalho quero mostrar mulheres em várias situações e poses clássicas representadas nas artes visuais e modificá-las de forma que implica um individuo artás da pose. Um jeito de fazer isso, seria a aplicação de manchas de sangue nas roupas das mulheres. Mostrar a menstruação como representante da presença e vivacidade do corpo feminino.


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